23/04/2010

DA JANELA PARA O MUNDO (3ª parte)

Já na salinha que tinha sido decorada com muito bom gosto, poltronas de veludo púrpura, ladeadas por pequenas mesas marmoreadas, cujos veios, identificavam o local da sua extracção, tornavam o ambiente apelativo e acolhedor; disposta numa delas, uma garrafa de champanhe e uns fantásticos morangos apelavam há luxúria.
Passava das 00:03h, o tempo não lhe pertencia, cada gesto cada palavra, absorvia-a.Este homem enigmático acariciava-lhe os sentidos, deixando-a sem defesas.
Os pregões matinais já se faziam ouvir, no ar um odor fresco a orvalho invadia a divisão.
Despediram-se com promessas de uma nova visita e agora extenuada, mas particularmente feliz, adormeceu. O dia trar-lhe-ia uma nova visão dos acontecimentos.
Lá fora o burburinho intensificava-se, sirenes, gritos e o apito estridente de um polícia -la levantar-se, o sol quase a pôr-se provocou-lhe uma sensação de preguiça ainda maior, o estômago já dera sinal, vestiu-se apressadamente e desceu; tinha combinado com Maria um pequeno lanche na pastelaria ao fundo da rua, absorta nestes pensamentos não reparava na agitação em frente a sua casa.
Coitada, que monstro pode ter feito isto, dizia alguém horrorizado com tal cenário,
Talvez um crime passional retorquiu outro, involuntariamente o seu olhar petrificou ao avistar o corpo que jazia já sem vida no empedrado sujo e frio.
Não conteve as lágrimas e sentiu-se desfalecer, acordava agora envolta nuns braços robustos, aconchegantes e naquele olhar que a tinha perturbado. A lembrança de Maria já sem vida, o seu corpo esquartejado, o cheiro ocre do sangue fizeram-na gritar de dor Quem poderia ter feito tal monstruosidade, este pensamento persistia, sem que conseguisse tirar dai alguma conclusão.
A polícia interrogava-a agora, mas o seu olhar deambulava pela divisão, as suas palavras balbuciadas descompassadamente torturavam-na.
A sua melhor amiga tinha sido assassinada, quem? Quem seria o monstro capaz de tirar a vida aquela que ela tanto amava.
                                                                                               ( Continua )

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